logo-to-de-passagem

Lundu da Ilha de Marajó: uma dança histórica de origem africana

setastdp

É difícil não se deixar levar pela atmosfera mágica do lundu.

A sincronia perfeita dos casais de dançarinos, a sonoridade romântica do violão, a fluidez charmosa dos movimentos… quando o lundu começa, a paixão e a beleza dominam o ar de uma forma hipnotizante. Presente em várias partes do país, o ritmo tem um lugar especial na fantástica Ilha de Marajó, considerada uma das maiores ilhas do Brasil. Foi lá que surgiu o lundu marajoara, uma variação ainda mais única do gênero apaixonante que já resistiu a vários séculos de história.

Quer se apaixonar também? Então fica por aqui! Hoje, vamos te levar para conhecer toda a riqueza artística do lundu e sua importância cultural para a Ilha de Marajó. Além disso, você vai descobrir a origem desse ritmo lindo e o imenso significado histórico que ele carrega. Pode ir se preparando para soltar o gingado, que você está prestes a desvendar mais uma das inesquecíveis manifestações que celebram a nossa brasilidade

Afinal, o que é o Lundu? 

Entenda a origem do Lundu marajoara 

Confira quais são os instrumentos do Lundu 

Por que o Lundu marajoara é tão único?

Onde conhecer e viver um pouco deste ritmo ao vivo?

Descubra a beleza desta manifestação cultural e muitas outras atrações paraenses em uma viagem com a Clickbus! 

Afinal, o que é o Lundu? 

Num doce balançar
Eu vi uma sereia
Os pés sujos de areia
Me acenou com a mão
Ai, ai meu coração
Entrei no seu lundu…

O Lundu é um estilo de dança e de música que nasceu de raízes afrobrasileiras.

Com coreografias formadas por passos harmoniosos, transições suaves e muito requebrado dos quadris, essa modalidade sensual exala charme e romantismo. E não é à toa: ela é realmente inspirada na conquista, com movimentos que são representações lúdicas de convites amorosos. Geralmente praticado como dança circular, o lundu começa quando os dançarinos formam uma roda e acompanham o ritmo da música com o gingado. Depois, os participantes se alternam para ocupar o meio do círculo, onde exibem seus movimentos individualmente enquanto os outros batem com as palmas da mão.

A emoção maior rola quando a pessoa que está no centro da roda convida alguém para dançar junto com ela. Tradicionalmente, a narrativa do lundu envolve o esforço dos dançarinos homens para “conquistar” as moças – às vezes, elas só aceitam o convite para a dança após várias tentativas –. Mas vale mencionar que as mulheres também podem puxar dançarinos (de qualquer gênero) para o meio da roda. Quando o convite é aceito, o par em destaque combina movimentos sincronizados em uma coreografia que pode lembrar um cortejo ou uma brincadeira amigável.

Caso você decida arriscar alguns passos, se liga na dica: existem vários jeitos de convidar alguém para dançar no lundu. É possível transmitir a ideia parando diante da pessoa escolhida e indicando a intenção por meio de batidas das mãos ou dos pés. Mas o que levanta alvoroço e agita os integrantes da roda é o movimento chamado de umbigada – uma ondulação do quadril em direção à pessoa convidada –, considerado o passo mais sensual de todos.

Quando não é dançado em grupo, o lundu pode ser praticado por casais de maneira autônoma. Quem manda é a vontade dos dançarinos: o ritmo não se prende a datas, cerimônias e nem ocasiões específicas para acontecer. 

Entenda a origem do Lundu marajoara

Assim como muitos ritmos folclóricos brasileiros, o lundu nasceu das tradições africanas.

Na época colonial, ele já era parte dos antigos costumes dos batuques angolanos. Trazido ao Brasil pelos africanos escravizados, o lundu incorporou alguns traços da cultura portuguesa ao chegar por aqui – principalmente o uso de instrumentos de cordas, como a viola e o violão –. O estilo era praticado nas senzalas como forma de lazer e de conexão com a ancestralidade, tradição que continuou a ser preservada pelos descendentes dos escravizados.

Com o tempo, o lundu foi ganhando uma cara cada vez mais brasileira, inspirando a composição de canções que deram origem a um gênero musical próprio. Ao longo do século 18, o ritmo recebeu foi alvo de muitos rótulos depreciativos: os movimentos sensuais eram vistos pela sociedade conservadora como afrontas aos bons costumes. Por isso, o lundu chegou a ser proibido por lei e até condenado pelos líderes religiosos do Vaticano, assim como o maxixe – modalidade de dança similar ao lundu e apelidada de “tango brasileiro” –.

A tentativa de repressão não vingou, e o lundu continuou sendo praticado às escondidas. Quando todo mundo já tinha esquecido do decreto, ele voltou a aparecer livremente nas ruas e festas populares. No século 19, as músicas do gênero lundu-canção caíram no gosto dos brasileiros, marcando presença em tavernas, casas de chope, circos e até nas celebrações do Império. O “ritmo proibido” passou a ser apreciado por brasileiros de todos os contextos sociais, e a popularidade foi tão grande que inaugurou a tecnologia do rádio por aqui: a primeira música gravada no Brasil foi um lundu! A faixa chamada Isto É Bom era de composição de Xisto e foi eternizada na voz do intérprete Baiano.

Confira quais são os instrumentos do Lundu 

Apesar de ter começado nos batuques africanos, o lundu sofreu várias mudanças em sua musicalidade quando chegou ao Brasil.

Com o tempo, os tambores cederam seu protagonismo para os instrumentos de corda. Hoje em dia, a percussão costuma ficar por conta do ganzá, do reco-reco e das maracas. Além deles, a música do lundu pode contar com as notas envolventes de rabeca (uma espécie de violino), banjo, cavaquinho, violão e viola. Na Ilha de Marajó, o ritmo desenvolveu uma complexidade musical ainda mais única  – como explicamos na seção abaixo –.

Por que o Lundu marajoara é tão único?

Mas, afinal… por que será que o lundu marajoara recebe um destaque tão grande?

Apesar de estar presente em vários pontos do nosso país, o lundu ganhou características diferenciadas na bela Ilha de Marajó. Diferente das modalidades praticadas em regiões de São Paulo e Minas Gerais, o lundu marajoara incorporou o clarinete e outros instrumentos modernos nas composições musicais, o que deixa o ritmo das canções ainda mais hipnotizante. 

Além disso, a dança do lundu marajoara é espetáculo visual sem comparação: os belos trajes usados pelas dançarinas acrescentam um toque especial às apresentações. Elas costumam vestir grandes saias rodadas de estampas floridas e cores vibrantes, como as que fazem parte da tradição do carimbó. Adornos de cabelo floridos, pulseiras de miçangas, brincos chamativos e colares de contas completam a linda harmonia do gênero paraense. 

Onde conhecer e viver um pouco deste ritmo ao vivo?

Pode parecer óbvio, mas o melhor lugar para quem deseja conhecer de perto a beleza do lundu marajoara é a Ilha de Marajó!

Situada bem pertinho da capital paraense, Belém, a maior ilha fluviomarítima do mundo é dona de uma bagagem cultural riquíssima. Além disso, a natureza exuberante da região proporciona várias paisagens incríveis e espaços perfeitos para quem curte pegar um sol. Caso decida visitar a Ilha de Marajó, não deixe de reservar um tempinho para mergulhar nas águas revigorantes da Praia do Pesqueiro. Você também pode visitar as tradicionais fazendas de búfalos espalhadas pela ilha. Os simpáticos animais são verdadeiros símbolos marajoaras e servem até como montaria para a polícia local!

O lundu marajoara é comum em vários dos 17 municípios da ilha. Ele costuma ser encontrado com mais facilidade em Salvaterra e em Soure, a maior cidade de Marajó. A modalidade também é praticada por alguns grupos culturais de Belém.

Para quem deseja conferir pessoalmente os encantos do lundu marajoara, é preciso fazer uma parada na capital paraense antes de seguir viagem. Lá, você pode pegar uma embarcação para a Ilha de Marajó – a travessia dura de 2 a 3 horas e é disponibilizada por várias agências de turismo de Belém –. Aliás, você sabia que é super fácil ir até Belém do Pará viajando de ônibus

Pois é, essa alternativa de transporte é perfeita para quem deseja fugir dos preços elevados e das limitações de bagagem que sempre dificultam as viagens aéreas. Se quiser saber mais sobre as melhores opções de rotas para a sua viagem, confira essas passagens de ônibus para Belém do Pará!

Descubra a beleza desta manifestação cultural e muitas outras atrações paraenses em uma viagem com a Clickbus!

ônibus em uma rodovia brasileira com a serra e o sol ao fundo

Não tem como resistir ao ritmo cativante do lundu marajoara.

Assim que a primeira nota do violão flutua no ar e a roda começa a se formar, não tem jeito: a vontade de acompanhar a harmonia convidativa do lundu é tentadora até para quem não costuma dançar. Quando você tiver a oportunidade de acompanhar essa bela tradição de perto, vai entender rapidinho por que ela recebeu o título de Patrimônio Imaterial do Pará. Herança de uma trajetória histórica longa e emocionante, o lundu merece ser considerado um dos ritmos populares mais fascinantes do Brasil.

E aí, gostou de conhecer a origem do lundu? Então não deixe de conferir nossos outros conteúdos! Aqui no Tô de Passagem, nós adoramos desvendar os vários encantos da cultura brasileira e os destinos nacionais mais incríveis. Se você adora desbravar as riquezas do nosso país, pode contar com a gente na hora de planejar viagens inesquecíveis!

Viajar muda a gente, então bom passeio pra você e até a próxima!

Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja O Que Estão Comentando

Deixe o seu comentário

Web Stories

Inscreva-se Para Receber Notícias E
Conteúdos Exclusivos Sobre Viagem