As cores e os tambores do maracatu são capazes de impressionar qualquer pessoa.
Nas tours pelas ruas históricas do Recife Antigo, é comum que os turistas sejam surpreendidos por uma cadência hipnotizante que vem acompanhada por um arrepio. Quem se deixa levar pela vontade irresistível de seguir na direção do som acaba mergulhando em uma atmosfera mágica. De repente, entre uma construção secular e outra, surge um cortejo conduzido por um exército de tambores. O batuque poderoso das alfaias não deixa dúvidas: é o maracatu passando.
Já no interior do estado, o mesmo efeito de encantamento é provocado pelo espetáculo colorido dos caboclos de lança. Mistura de dança, música, performance, história e riqueza visual, o maracatu é uma verdadeira explosão de cultura que reúne várias modalidades artísticas. Todo mundo que já teve a chance de visitar Pernambuco e presenciar a beleza dessas manifestações únicas concorda que elas têm um charme que é até difícil de descrever… mas é claro que a gente vai tentar!
Hoje, vamos te levar em um passeio especial por alguns dos elementos mais incríveis do repertório artístico pernambucano. Bora, que é hora de descobrir a origem do maracatu, suas principais características e a incrível história que ele carrega! Pode vir com a gente para entender:
Saiba mais sobre a origem do Maracatu
A rica história do Maracatu é única
Características do Maracatu: conheça os dois tipos de Maracatu
Maracatu Rural: conheça o Maracatu de Baque Solto
Maracatu Nação: características do Maracatu de Baque Virado
Quais são os personagens do Maracatu?
Maracatu: dança que encanta por sua beleza
Saiba mais sobre a origem do Maracatu
É impossível dizer exatamente em que ano o maracatu surgiu. O que se sabe, com toda a certeza, é que ele é autenticamente pernambucano!
Na capital, Recife, o maracatu nação – variedade “urbana” do ritmo – apareceu nos registros históricos pela primeira vez em 1711. Tudo indica que ele tenha nascido entre os séculos 17 e 18, quando a escravidão ainda era realidade no Brasil. Como muita manifestações culturais brasileiras, o maracatu nação é uma mistura de elementos herdados de diferentes culturas, mas o que mais se destaca nas apresentações é a rica bagagem afrobrasileira.
Entre o final do século 19 e o início do século 20, o maracatu nação já tinha florescido em Recife e nas cidades próximas, como Abreu e Lima e Igarassu. Foi nessa época que o nome começou a ser usado para falar de manifestações bem diferentes, que aconteciam no interior de Pernambuco. Era o surgimento do maracatu rural, modalidade criada pelos trabalhadores das plantações lá nos arredores de Nazaré da Mata. Assim nasceu uma das figuras folclóricas mais emblemáticas da cultura pernambucana, o caboclo de lança.
Resumindo: na verdade, existem dois maracatus, com origens e características muito distintas entre si. Mas calma, que a gente está só começando! É só continuar por aqui que você vai entender tudo isso direitinho.
A rica história do Maracatu é única
Como você já percebeu, a história do maracatu tem mais interrogações do que respostas.
No caso do maracatu nação, a hipótese mais aceita é de que a manifestação tenha vindo do antigo costume colonial conhecido como Rei do Congo. Os cortejos e coroações do Rei do Congo eram celebrações criadas pelos colonizadores portugueses e usadas pelos senhores de terras para reforçar a dominação sobre os africanos escravizados. Funcionava mais ou menos assim: os escravizados elegiam entre si um casal para receber os títulos de Rainha e Rei do Congo, e a coroação simbólica acontecia numa espécie de festejo incentivado pela senhoria.
As intenções por trás desses rituais eram várias… mas todas cruéis. As comemorações do Rei e da Rainha do Congo serviam para “distrair” momentaneamente os escravizados. Além disso, essas figuras acabavam ganhando certa influência na senzala e eram usadas pela casa-grande como ferramentas de manipulação. O que os senhores não esperavam era que os cortejos e coroações ganhariam um significado diferente: com o tempo, os escravizados e seus descendentes se apropriaram dos rituais do Rei do Congo.
Os cortejos viraram verdadeiras celebrações da riqueza cultural africana. A organização inicialmente inspirada nas cortes europeias foi ganhando cada vez mais elementos afrobrasileiros, com direito a muitas referências ao candomblé e aos orixás da religiosidade iorubá. Em pouco tempo, o maracatu nação se tornou uma manifestação popular adorada por muita gente e passou a fazer parte da própria identidade cultural dos pernambucanos.
Já o maracatu rural surgiu nos engenhos do interior e se desenvolveu principalmente nas cidades da região chamada de Zona da Mata. Ele começou como uma brincadeira dos trabalhadores rurais, que encontravam nas exuberantes performances uma forma de lazer e confraternização. Mais do que momentos de diversão, os folguedos são representações da herança secular e do sincretismo que marcam a vida das populações rurais. Até hoje, o maracatu rural é cultivado e celebrado com muito orgulho em várias zonas interioranas do estado, além de ter conquistado também os corações dos recifenses.
Características do Maracatu: conheça os dois tipos de Maracatu
Como você já sabe, existem dois tipos de maracatu.
Na verdade, a palavra “maracatu” é usada para falar de duas manifestações que são quase completamente diferentes entre si. São brincadeiras com origens, traços musicais, organizações e significados bem distintos. Não é exagero dizer que a maior semelhança entre o maracatu rural e o maracatu nação – além do nome, claro – é que os dois nasceram da força popular e da resistência contra a dominação dos colonizadores.
Bateu a confusão? Relaxa, a gente explica melhor. Aqui embaixo, você vai entender as principais características do maracatu rural e do maracatu nação.
Maracatu Rural: conheça o Maracatu de Baque Solto
Maracatu de baque solto, maracatu orquestra ou maracatu de trombone: esses são alguns dos muitos nomes dados ao maracatu rural.
Você provavelmente já deve ter se deparado com imagens, ilustrações ou vídeos dos caboclos de lança por aí, né? Os trajes coloridos cobertos de lantejoulas, os arranjos de cabeça feitos com fitas brilhantes e as flores que essas famosas figuras carregam na boca são alguns dos elementos que tornam o maracatu de baque solto tão inconfundível. Festejado principalmente nos dias de Carnaval, esse tipo de maracatu é uma mistura de várias manifestações populares do interior de Pernambuco, como o reisado e o bumba meu boi.
Sempre aguardadas com muita expectativa nas zonas rurais, as apresentações do maracatu de baque solto são espetáculos que transmitem arte em todos os detalhes. Além do visual incrível das roupas, que são verdadeiras obras-primas costuradas artesanalmente, os cortejos têm performances quase teatrais, com direito a vários personagens folclóricos. Tudo isso ainda é acompanhado pelo ritmo animado dos instrumentos de percussão e sopro, pela cantoria poética dos mestres e pelos olhares apaixonados do público!
Maracatu Nação: características do Maracatu de Baque Virado
Sabia que o maracatu nação é um dos ritmos afrobrasileiros mais antigos?
Também chamada de maracatu de baque virado, esse lindo tesouro cultural se manifesta principalmente na musicalidade. É comum encontrar bandas de maracatu nação desfilando com seus batuques pelo Centro Histórico de Recife, puxadas pelas toadas dos mestres. No Carnaval, os cortejos são bem mais elaborados, com fantasias sofisticadas e ricos estandartes. É uma estrutura que imita os passeios da antiga realeza, com vários personagens que representam membros da corte. Os destaques, como você deve imaginar, são o Rei e a Rainha.
Como nos batuques de santo – rituais sagrados das religiões de matriz africana –, o som do maracatu nação fica por conta da sincronia perfeita entre os instrumentos de percussão. São tambores de vários tipos e tamanhos, caixas, taróis, abês e ganzás. Uma das grandes estrelas da ala dos batuqueiros é a alfaia, um tradicional tambor rústico feito com madeira, cordas e membranas de pele. Sabe quando você está junto de um som tão potente que sente o coração vibrar no ritmo da música? Essa é mais ou menos a sensação de assistir a um cortejo ou ensaio de maracatu.
Quais são os personagens do Maracatu?
Ali em cima, nós comentamos que o maracatu rural e o maracatu nação compartilham poucas características em comum.
Embora tenham traços musicais e organizações diferentes, os dois tipos de maracatu contam com a presença de muitos personagens similares. As figuras herdadas da nobreza europeia – como reis, rainhas, príncipes e princesas – estão presentes tanto no baque solto quanto no baque virado, sempre com fantasias coloridas e ricamente enfeitadas. Além disso, os dois maracatus costumam contar com a participação das iabás (também conhecidas como baianas) e com as damas de paço.
As damas de paço são personagens super tradicionais e importantes para todos os desfiles de maracatu. São as mulheres responsáveis por carregar as calungas, bonecas sagradas que representam entidades ou ancestrais. No maracatu rural, elas aparecem entre caboclos de lança, caboclos de pena e figuras “emprestadas” de outros folguedos populares, como Mateus, Bastião, Catita e Burrinha. Além disso, algumas fantasias do maracatu de baque solto são homenagens à influência cultural dos indígenas.
No maracatu nação, os cortejos avançam de forma mais linear – ao contrário do maracatu rural, em que a movimentação é mais livre –. Primeiro vem o porta-estandarte, que fica encarregado do abre-alas. Ele é seguido pelas damas do paço e pelas figuras reais, com destaque para o rei e a rainha, grandes estrelas da coroação. Geralmente, o nobre casal é acompanhado por um vassalo que protege os dois com um guarda-sol. Depois dos personagens que representam a aristocracia, vêm a ala das iabás e outras figuras que simbolizam a criadagem. Fechando o espetáculo estão os batuqueiros, que animam o cortejo com o som único do maracatu.
Maracatu: dança que encanta por sua beleza
Beleza, você já sabe como o maracatu se manifesta na música, na narrativa dos personagens e nos elementos visuais. Mas e a dança do maracatu, como é?
No maracatu nação, os brincantes fazem movimentos amplos com os braços, subindo e descendo os cotovelos junto ao corpo. Os passos sempre seguem o ritmo marcado pelos tambores, e também podem incluir rodopios que exibem a beleza das saias coloridas e rodadas. Os participantes do maracatu rural também rodopiam com frequência – principalmente os caboclos de lança, que também correm e pulam para mostrar as exuberantes fitas coloridas penduradas nas fantasias –.
Além disso, alguns personagens do maracatu rural se movimentam livremente entre os cortejos, brincam com o público e executam uma dança mais acrobática, com toques de humor.
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Já deu para perceber por que o maracatu ocupa um lugar tão importante nos corações dos pernambucanos, né?
Tanto no baque virado quanto no baque solto, essa manifestação arretada é um espetáculo de riqueza artística incomparável. Não é à toa que o maracatu recebeu o título de Patrimônio Cultural do Brasil do Instituto pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)! E olha que esses cortejos magníficos são apenas uma parte do que espera por você em Pernambuco. O estado é um prato cheio para quem curte turismo cultural, experiências gastronômicas incríveis, passeios históricos e festivais icônicos.
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